Artigos 26 julho 2023

TDAH: O que é, e como é feito o diagnóstico

Jaqueline Figueiredo Ferreira Psicólogo
Jaqueline Figueiredo Ferreira
Psicólogo

O que é o TDAH

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, causado por fatores genéticos e ambientais que levam a alterações em várias redes cerebrais e nos processos cognitivos, motivacionais e emocionais. Com início geralmente na infância, frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Também é chamado de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Caracteriza-se por sintomas como:

  • Desatenção
  • Inquietação
  • Impulsividade

Quais são as causas do TDAH

Por décadas, cientistas têm buscado esclarecer a etiologia do transtorno do TDAH. Em 2021 a Federação Mundial de TDAH publicou uma Declaração de Consenso Internacional na qual especialistas líderes mundiais na área de TDAH revisaram a literatura específica e selecionaram descobertas com forte base de evidências. Os autores destacam que a maioria dos casos de TDAH é causada pelos efeitos combinados de riscos genéticos e ambientais e que existem pequenas diferenças no cérebro entre pessoas com e sem TDAH. Fatores de risco como alterações do neurodesenvolvimento, prematuridade, baixo peso ao nascer, desnutrição no primeiro ano de vida também são considerados. Além disso, o TDAH não tratado pode levar a muitos resultados adversos e incapacitantes.

Como é feito o diagnóstico do TDAH

O TDAH deve ser estabelecido clinicamente por especialistas da área de saúde mental, que entrevistem os pais, cuidadores e paciente a fim de documentar os critérios para o transtorno. Não deve ser diagnosticado apenas por escalas de classificação, testes neuropsicológicos ou métodos de imagem do cérebro. O diagnóstico é útil para prever dificuldades de aprendizagem na escola, risco de abuso futuro de drogas, resposta ao tratamento (por exemplo, medicamentos e tratamentos psicológicos) e características que indicam um conjunto consistente de causas para o distúrbio (por exemplo, achados de genética ou imagens cerebrais). É importante, inclusive, como ferramenta diagnóstica em que se avalie os prejuízos funcionais na vida do indivíduo portador de TDAH.

Critérios diagnósticos

Segundo o DSM 5-TR ( Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais da AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION) os principais critérios diagnósticos são: presença de sintomas hiperativo-impulsivos e/ou desatenção por pelo menos 6 meses que aparecem antes dos 12 anos de idade, os sintomas devem ocorrer em diferentes ambientes (por exemplo, em casa e na escola) e causam prejuízos na vida. Os subtipos do TDAH, segundo o DSM 5-TR, são desatenção predominante, hiperatividade/impulsividade predominante e tipo combinado.

Quais são os sintomas do TDAH

Os sintomas incluem:

  • Falta de atenção a detalhes ou erros por descuido na escola, no trabalho ou durante outras atividades,
  • Dificuldade para manter a atenção em tarefas prolongadas que exijam esforço mental constante,
  • Não escutar quando lhe dirigem a palavra (a mente parece divagar, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia);
  • Dificuldade para seguir instruções e não terminar tarefas domésticas, escolares ou de trabalho;
  • Dificuldade de organização, má administração do tempo, perda ou esquecimento de materiais escolares, telefone, chaves, documentos, óculos etc.
  • Comportamento agitado e/ou inquieto (mãos, pés), dificuldade de permanecer sentado, correr em situações em que isso é inadequado,
  • Incapacidade para participar calmamente de atividades de lazer, parecendo estar sempre agitado e inquieto,
  • Falar em excesso ou interromper os outros,
  • Dificuldade para esperar a sua vez.

Há uma clara evidência de que os sintomas interferem ou reduzem a qualidade do funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. Estudos anteriores descreveram um declínio geral da severidade dos sintomas de hiperatividade-impulsividade ao longo do desenvolvimento, mas a estabilidade e o aumento desses sintomas também têm sido relatados. Dessa forma, estima-se que até 70% das crianças diagnosticadas com TDAH na infância continuam a exibir níveis desenvolvimentalmente inapropriados de desatenção e, em menor grau, sintomas de hiperatividade-impulsividade durante a adolescência e na vida adulta (BIEDERMAN ET AL., 1998; FARAONE ET AL., 2002).

Qual é a prevalência do TDAH

Segundo a Declaração de Consenso Internacional da Federação Mundial de TDAH o transtorno é mais comum em homens e ocorre em 5,9% dos jovens e 2,5% dos adultos. O transtorno afeta cerca de 5 a 15% das crianças e é duas vezes mais comum em meninos. Entretanto, muitos especialistas acreditam que o TDAH é super diagnosticado, em grande parte porque os critérios são aplicados de forma imprecisa.

Mulher conversando com criança É importante estar atento aos sinais do TDAH e procurar orientação profissional para o diagnóstico

Consequências do TDAH

As consequências dos sintomas podem estar associadas ao comprometimento acadêmico, baixa autoestima, resultados ocupacionais negativos e funcionamento adaptativo geral inferior. Os sintomas hiperativo-impulsivos estão associados à rejeição dos colegas, agressão, comportamentos arriscados e lesões acidentais. Estudos demonstram que pessoas diagnosticadas com TDAH podem apresentar, ao longo da vida, baixo rendimento escolar, maior probabilidade de acidentes de trânsito, divórcios e demissões de empregos.

Comorbidades

Estudos epidemiológicos e clínicos mostram que o TDAH frequentemente co-ocorre com outros transtornos psiquiátricos, especialmente depressão, transtorno bipolar, transtornos do espectro autista, transtornos de ansiedade, transtorno desafiador opositivo, transtorno de conduta, transtornos alimentares e transtornos por abuso de substâncias .

Tratamento

O tratamento efetivo para o TDAH envolve intervenções psicossociais e medicamentosas e deve sempre iniciar pela chamada psicoeducação do paciente e sua família para a compreensão do que é o TDAH, como ele atinge as diversas áreas da vida e quais são as principais abordagens para o tratamento: estratégias farmacológicas e não farmacológicas.

Conclusão

Estudos atuais envolvendo os especialistas no campo da neurociência, institutos mundiais de pesquisa e os diversos órgãos nacionais e internacionais de pacientes, pesquisadores e profissionais na área da saúde convergem para o posicionamento de que o TDAH é uma síndrome de desatenção, hiperatividade e impulsividade, de origem genética, neurobiológica e fatores ambientais, cujo diagnóstico é feito através de critérios clínicos e o tratamento inclui medicação, psicoterapia comportamental e intervenções educacionais envolvendo o paciente, suas famílias e a escola. A incidência do TDAH no Brasil segundo a ABDA – Associação Brasileira de Déficit de Atenção, mostra que mais de 5% das crianças brasileiras têm TDAH. Segundo esta estimativa, 70% das crianças com TDAH apresentam outra comorbidade. Em 10% dos casos, apresentam três ou mais diagnósticos. Diante dessas estatísticas é muito importante garantir que o poder público e o sistema de saúde se empenhem em divulgar amplamente informações claras e objetivas sobre o transtorno ao mesmo tempo em que sejam disponibilizados tratamentos acessíveis a todos os pacientes e suas famílias.

Em 30/11/2021 foi promulgada a Lei Federal nº 14.254/2021 de que dispõe sobre o acompanhamento integral para alunos com TDAH através da identificação precoce do transtorno, o encaminhamento para o diagnóstico e o apoio educacional. Já a Lei Federal nº 14.420/2022 de 20/07/2022 institui a Semana Nacional de Conscientização sobre o TDAH e o apoio terapêutico especializado na rede de saúde pública.

Além desses programas, o Governo Federal juntamente com os órgãos do SUS e do INSS implantou o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC-LOAS que é assegurado por lei e permite o acesso de pessoas com deficiências às condições mínimas de uma vida digna. Entretanto, para requerer o benefício, o requerente deve preencher os requisitos para concessão do BPC-LOAS que são: ser portador de deficiência, ter renda familiar mensal (per capita) inferior a ¼ do salário mínimo, não estar vinculado a nenhum regime de previdência social, não receber benefício de espécie alguma, salvo o de assistência médica e comprovar não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.

Os planos de saúde também são obrigados a cobrir o tratamento para TDAH. A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS determina que os planos de saúde proporcionem as coberturas de consultas necessárias para tratamento do TDAH já que está incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-10.

No que se refere à obtenção da medicação, esta ainda não está incluída na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) distribuída pelo SUS. Para requerê-los pode-se usar a via administrativa e para isso é necessário possuir o cartão nacional de saúde, o laudo médico que comprova a doença e a receita médica. O pedido é feito através da secretaria municipal ou estadual de saúde. Caso haja negativa, a alternativa é a via judicial, ingressando com um processo para obter o medicamento de forma gratuita. Vale ressaltar também que pelo entendimento da justiça, mesmo que os medicamentos para TDAH não estejam listados no Rol da ANS, eles devem ter cobertura do plano de saúde, já que geralmente não existe tratamento substitutivo para a doença.

Ser diagnosticado com TDAH seja na infância, adolescência ou vida adulta pode trazer prejuízos para a constituição psicológica de um indivíduo pois ele provavelmente cresceu ouvindo que não presta atenção, não pára quieto, perde suas coisas, é muito agitado, o que com o passar do tempo, pode trazer danos à auto estima e constituir crenças de que não é capaz, não é inteligente, não é bom o suficiente. Assim, além do transtorno surgem outros prejuízos emocionais que, se o indivíduo não receber o suporte necessário, poderá piorar a evolução da doença e trazer outras consequências graves em diversas áreas da vida.

Portanto, receber informações sobre a doença, procurar atendimento e diagnóstico é direito de todo o cidadão e o estado deve oferecer o suporte necessário no sistema de saúde e previdenciário.

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