Carmen Sílvia Miguel

Sim. Uma avaliação neuropsicológica pode ter dois focos distintos, que não se opõem. Por exemplo, um encaminhamento médico pode somente desejar informações sobre se há ou não a presença de prejuízos cognitivos e quais os níveis desses comprometimentos. Neste caso, no seu relatório, o neuropsicólogo recomenda algumas práticas, cuja realização fica a critério do juízo médico. Essas recomendações geralmente envolvem a realização de uma reabilitação cognitiva e a procura de outros profissionais da saúde, pois foram observadas durante a avaliação neuropsicológica alterações em áreas específicas (fora da neuropsicologia), que merecem uma investigação mais aprofundada. Nesse caso, há o delineamento da estrutura de um plano de reabilitação neuropsicológica.
Por outro lado, é possível realizar a mesma avaliação neuropsicológica com foco na reabilitação neuropsicológica, se esta for a solicitação do encaminhamento médico, geralmente focando em um quadro neuro/psiquiátrico específico. Nesse caso, se procura identificar através da avaliação neuropsicológica as forças e fraquezas cognitivas, apresentadas pelo paciente, e a partir dessa identificação e de aspectos psicológicos e outros investigados, haverá condições para se desenhar um plano de reabilitação neuropsicológica (com as suas etapas, foco, etc.) e não só delineamento de sua estrutura.
Esse plano de reabilitação neuropsicológica incluirá a reabilitação cognitiva e dependendo do caso envolve a transdisciplinaridade de áreas da saúde; com a participação do próprio paciente e seu cuidador, psicólogo, neuropsicólogo, psiquiatra, neurologista, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta com a diferença, que todos se comunicam entre si durante o processo.

Ainda há pouco conhecimento no Brasil, sobre esse assunto, mas, sim, existe o programa Mindful Awareness Practices, desenvolvido pela psiquiatra Lidia Zylowska especificamente para pessoas com TDAH. Esse programa considera na sua estrutura as características dos sintomas de TDAH.
O Mindfulness direcionado às pessoas adultas com TDAH, é o tema do meu doutorado, assim, em minhas pesquisas sobre as evidências científicas existentes sobre o assunto, observo, que ainda há poucos estudos; entre eles um brasileiro, mas esses estudos trazem resultados promissores.
Em alguns desses estudos, os adultos diagnosticados com TDAH mostraram através de autorrelatos, que houve melhoras significativas nos sintomas de desatenção, hiperatividade / impulsividade, e depressão, ansiedade (esses dois últimos são comorbidades, que muitas vezes estão associadas ao TDAH).
Esses resultados foram encontrados na comparação das fases antes da realização do programa Mindful Awareness Practices e pós, a realização do programa.
Assim, apesar de ainda termos várias perguntas, a serem respondidas por estudos futuros, os dados iniciais mostram, que aparentemente temos, mais um recurso, para o tratamento não-farmacológico do TDAH.
Nesse processo, um ponto muito importante a ser esclarecido, é que esse programa não é um substituto para a psicoterapia, mas sim um aliado.