Sou Aedo Khouri, médico especialista em Ortopedia e Traumatologia e em Cirurgia da Mão e Microcirurgia Reconstrutiva.
A escolha da especialidade em Cirurgia da mão não veio por acaso, atuei como instrumentador cirúrgico na especialidade desde o ano 2003, muito antes de ser graduado em medicina (2014). Tive o grande privilégio em encontrar os melhores mestres e com auxíio deles conseguir fazer parte desse seleto grupo de cirurgiões que cuidam dessa área tão nobre e importante do nosso corpo, a qual foi tão bem descrito por José Raul Chiconelli (presidente da SBCM 1974-1975) durante discurso de abertura do V congresso Brasileiro de Cirurgia da Mão.
"Depois que a MÃO de Deus criou o universo e todos os seres vivos, o homem, feito à sua imagem e semelhança, pode tornar-se, pelo uso das MÃOS, uma das mais bem-sucedidas criaturas, porque modificou toda a sorte de ambientes, mantendo-se bem sob as mais diversas condições.
Quem por dever de profissão cuida da MÃO que sofre, da MÃO que adoece, da grandeza da MÃO, sobre a universalidade de sua missão, enfim, sobre a importância da própria existência como elemento fundamental na integridade e na harmonia do corpo humano.
A MÃO distingue o homem na Criação, permitindo-lhe executar a transformação da natureza em favor da perpetuação da espécie, no sentido de aperfeiçoá-lo como animal cultural, que pensa e modifica, à sua maneira de sentir e agir, ao longo da vida em sociedade, que evolui sempre.
Nenhum pensamento humano, nenhum projeto de vida do homem, como animal cultural, poderia ser consubstanciado em verdade material, em realidade concreta, sem a prodigiosa capacidade de executar da MÃO.
A MÃO, no princípio, caçou, pescou e edificou um paravento para livrar o corpo do corpo que fustigava
O projeto de vida exigido pelas necessidades e determinado no Gênesis compeliu o homem a plantar e colher para sobreviver - o projeto foi executado
pelas MÃOS.
As MÃOS plantam, ceifam e colhem o trigo, moem o grão, amassam o pão e levam o pão à boca. Dez dedos, oponência do polegar, flexão e extensão das falanges umas sobre as outras permitiram empunhar o instrumento mais singelo, soerguer a pedra, vibrar o mais rude e primitivo tacape.
Essas mesmas MÃOS, através de milênios, sempre a serviço da imaginação - como sua grande intérprete , formaram os artesãos, os artistas e até as guerreiras. De que valeria o estro de Beethoven se as MÃOS não executassem as sonatas? Tudo teria morrido no poço de sua própria memória.
As MÃOS escrevem as partituras que tornaram a sua música imortal e as MÃOS executam as suas obras que nos transportam a um mundo mágico. De artesão o homem passou à máquina e da máquina ao computador.
A inteligência criou tudo através da ideação, mas só a MÃO realizou tudo com perfeição.
As MÃOS fizeram as rodas das carruagens, as asas dos aviões e as ogivas dos transplanetários.
A MÃO pintou o "Juízo Final" na Capela Cistina, esculpiu a Virgem Maria com o Filho morto na transfiguração da "Pietá", escreveu a Divina Comédia, compôs Os Lusíadas, gravou em letra de imprensa a Oração da Coroa de Demóstenes.
A MÃO que fez tudo isso desapareceu, virou pó, mas todo o seu trabalho é atemporal, não morrerá.
A MÃO determina o gesto, e o gesto define a intenção - assim a MÃO comanda.
A MÃO faz imprecações, a MÃO verbera, a MÃO acusa, a MÃO rege, a MAO afugenta, aproxima, indica, suaviza.
A MÃO incita, a MÃO aterroriza, a MÃO divide, reparte, junta.
A MÃO faz crescer, a MÃO minimiza, a MÃO aponta, ataca, absolve.
A MÃO abençoa, a MÃO lê pelo cego, fala pelo mudo.
A MÃO eleva, repele, cumprimenta, despede, a MÃO gesticula.
A MÃO diz adeus...
MÃO calosa, infantil, moça, velha. MÃO tíbia. MÃO aberta, trêmula, bonita, preta, branca e amarela. MAO rude. MAO fidalga.
MÃO do Sinal da Cruz. MÃO levantada da Suástica. MÃO fechada.
MÃO vacilante, inerente, fria. MÃO que se acaba.
Sempre as MÃOS... Acima de tudo, as MÃOS...
Senhores congressistas, aqui estamos reunidos. Nós que, com as nossas MÃOS, cuidamos de outras MÃOS. Este é o grande gesto das nossas MÃOS para com todas as MÃOS que precisam."